Uma droga barata, mas de tarja preta, contra a ansiedade vende mais do que os tradicionais Tylenol e Hipoglós. Alguma coisa estranha deve estar acontecendo quando um remédio contra a ansiedade tarja preta
VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR DE:Pesquisa comprova que mais de 237 pessoas morrem nos EUA esse ano por uso do medicamento Rivotril. Uma droga barata, mas de tarja preta, contra a ansiedade vende mais do que os tradicionais Tylenol e Hipoglós. Alguma coisa estranha deve estar acontecendo quando um remédio contra a ansiedade tarja preta, vendido apenas com retenção de receita se torna o segundo medicamento mais consumido no Brasil. Esse remédio é o velho Rivotril,que tem 35 anos de mercado, mas nos últimos cinco escalou rapidamente o rankingdos mais vendidos até chegar ao segundo lugar. Em 2008, os brasileiros compraram nas farmácias 14 milhões de caixinhas do ansiolítico (o campeão de vendas é o anticoncepcional Microvlar, com 20 milhões de unidades). O Rivotril bate remédios de uso corriqueiro, segundo o IMS Health, instituto que audita aindústria farmacêutica.
A clara preferência pelo Rivotril é um fenômeno brasileiro, que não se repete em outros países. A escalada desse ansiolítico na lista dos mais vendidos sugere que a população em sofrimento psíquico pode ser maior do que se imagina.Transtornos de ansiedade e depressão são comuns nas grandes cidades,castigadas pela violência, pelo trânsito e pelo desemprego. Mas a pesquisa São Paulo Megacity, uma parceria do Hospital das Clínicas de São Paulo com a Organização Mundial da Saúde, revela que cerca de 40% dos moradores da região metropolitana sofre de algum tipo de transtorno psiquiátrico. É um porcentual que os próprios psiquiatras consideram assustador e que depõe frontalmente contra a imagem de nação feliz que os estrangeiros e nós mesmos, brasileiros, gostamos de cultuar. O segundo problema que leva à indicação excessiva do Rivotril é a precariedade do atendimento de saúde brasileiro, sobretudo de saúde mental.
Há falta de psiquiatras no país. Consequentemente, as pessoas não recebem diagnóstico correto e não têm tratamento adequado de seus problemas. Quando o paciente chega ao consultório com enxaqueca, gastrite ou qualquer outra queixa que possa ter alguma relação com ansiedade, frequentemente ganha uma receitade Rivotril. Os médicos fazem isso porque o remédio é barato (a caixinha mais cara custa R$ 13), antigo e seguro, diz Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. Mas ele pode mascarar quadros mais graves. O ansiolítico acalma e atenua a ansiedade, mas os problemas subjacentes não são diagnosticados. Grande parte das pessoas nem sequer sofre de ansiedade. A depressão é muito comum, afirma a psiquiatra Mônica Magadouro. Mas o atendimento é tão precário que nem se nota a diferença. O terceiro fator que contribui para a venda de Rivotril é o que o psicanalista Plínio Montagna chama de glamorização do ato de medicar-se. No passado havia preconceito contra os remédios psiquiátricos. Recentemente, houve uma guinada cultural e eles passaram a ser vistos como resposta a todos os problemas da existência.
Os médicos (sobretudo os que não são psiquiatras) receitam remédios psiquiátricos com total desenvoltura. Da parte dos pacientes, também existe a expectativa de que isso aconteça.Todos têm pressa. Emoções normais e importantes para a mente, como tristeza ou ansiedade em situação de perigo, são eliminadas porque incomodam, diz Montagna, que é presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Questões existenciais são tratadas como sintomas médico-psiquiátricos, com a colaboração de uma avassaladora quantidade de dólares gastos em publicidade pela indústria farmacêutica. É frequente eu receber para tratamento pacientes com dosagens excessivas de medicação ou coquetéis de diversas substâncias, sem que os aspectos psicológicos tenham sido levados em consideração, afirma o psicanalista, que também é formado em psiquiatria. Por trás da precariedade do sistema de saúde e do modismo da medicação, existe a crescente incapacidade das pessoas e dos médicos em conviver com um dos sentimentos mais enraizados da psique humana, a ansiedade. Ela está lá desde os primórdios do homem, associada a temores e ameaças indefiníveis. Embora desagradável, é um dos motores da existência. Faz parte da nossa constituição evolutiva.
Há falta de psiquiatras no país. Consequentemente, as pessoas não recebem diagnóstico correto e não têm tratamento adequado de seus problemas. Quando o paciente chega ao consultório com enxaqueca, gastrite ou qualquer outra queixa que possa ter alguma relação com ansiedade, frequentemente ganha uma receitade Rivotril. Os médicos fazem isso porque o remédio é barato (a caixinha mais cara custa R$ 13), antigo e seguro, diz Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. Mas ele pode mascarar quadros mais graves. O ansiolítico acalma e atenua a ansiedade, mas os problemas subjacentes não são diagnosticados. Grande parte das pessoas nem sequer sofre de ansiedade. A depressão é muito comum, afirma a psiquiatra Mônica Magadouro. Mas o atendimento é tão precário que nem se nota a diferença. O terceiro fator que contribui para a venda de Rivotril é o que o psicanalista Plínio Montagna chama de glamorização do ato de medicar-se. No passado havia preconceito contra os remédios psiquiátricos. Recentemente, houve uma guinada cultural e eles passaram a ser vistos como resposta a todos os problemas da existência.
Os médicos (sobretudo os que não são psiquiatras) receitam remédios psiquiátricos com total desenvoltura. Da parte dos pacientes, também existe a expectativa de que isso aconteça.Todos têm pressa. Emoções normais e importantes para a mente, como tristeza ou ansiedade em situação de perigo, são eliminadas porque incomodam, diz Montagna, que é presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Questões existenciais são tratadas como sintomas médico-psiquiátricos, com a colaboração de uma avassaladora quantidade de dólares gastos em publicidade pela indústria farmacêutica. É frequente eu receber para tratamento pacientes com dosagens excessivas de medicação ou coquetéis de diversas substâncias, sem que os aspectos psicológicos tenham sido levados em consideração, afirma o psicanalista, que também é formado em psiquiatria. Por trás da precariedade do sistema de saúde e do modismo da medicação, existe a crescente incapacidade das pessoas e dos médicos em conviver com um dos sentimentos mais enraizados da psique humana, a ansiedade. Ela está lá desde os primórdios do homem, associada a temores e ameaças indefiníveis. Embora desagradável, é um dos motores da existência. Faz parte da nossa constituição evolutiva.
Fonte: R7